quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Parte do meu livro "Meu querido Américo"

Acho a luz do outono deslumbrante! Final de tarde então, é quase indescritível. A mistura de tons que o por do sol reproduz encobre o planeta parecendo cenário de filme.

No alto da Bocaina este cenário é mais do que especial. Como se não bastasse esta luz divina, os milhares de tons de verde que encobrem a encosta dos morros - estes todos sempre redondos - num sobe e desce ondulado hora cobertos de mata, hora simplesmente pastagens ralas, estão sempre salpicados de quaresmeiras, manacás, ipês, afora todas florzinhas coloridas do mato, penugenzinhas das encostas, coisinhas minúsculas  e encantadoras que se desmancham ao mais leve toque. De repente grandes composições de pedras, com formas tão bem delineadas e tão harmonicamente agrupadas que pode-se quase jurar que alguém as colocou ali!




Quanto mais você sobe mais a sensação que o céu fica ali pertinho, principalmente em noites nas quais a loucura das estrelas chegam ao extremo de forrá-lo de tal maneira que este parece mais baixo, desce com o peso delas.

Você se vê obrigado a sentar-se para poder suportar todo este mar prateado logo acima de sua cabeça. Precisa também segurar-se para não gritar nas noites de lua cheia onde tudo fica absolutamente cinza prata,com imensas manchas azul marinho cobrindo parte das matas e dos pastos,dando assim uma sensação de um pouco de medo,um pouco de curiosidade, um pouco de absurdo.

As árvores grandes tornam-se ainda maiores projetando uma sombra desenhada em planta-baixa composta de galhos, folhas, bromélias e toda sorte de parasitas. De repente o bater das asas da coruja que mudou de galho, o relinchar do cavalo que acordou, as canções dos sapos e rãs desafinadas, tudo isso junto faz duvidar que seja possível,dentro da perfeita sintonia da natureza,que o ser humano possa destoar do código que rege e une toda esta intrincada cadeia. Por quê? Há anos venho me perguntando por quê?


Maria do Carmo.

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